terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Olhos úmidos

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Cristina sempre gostou dos olhos.

Quando era menina gostava das bonecas mal cuidadas de suas amigas. Mantinha as suas intactas para fazer a troca por um bom número daqueles maltrapilhos.

Rabiscados de bic ou canetinhas coloridas, os olhos destas bonecas –que mais pareciam demônios, como seu pai dizia- eram o passatempo favorito da menina.

Ela gostava da companhia dos olhos dos enfermos. Esses conversavam com ela, não tinham pressa por não deixar o tempo passar.

Cristina sempre olhou os olhos.

Enquanto andava, pelas ruas apressadas, olhava o que todos vêem, mas não percebem.

Cada olho que pelas vias brilhava, ocultava, pedia. Cristina sentia.

E então ela diminuía seu ritmo para conversar com os olhos. Porque sim, os olhos conversam. E seus assuntos são diversos: podem falar da bunda da gostosa que passou, do sorriso torto da presidente eleita, ou, ainda, ficam em silêncio com as nuvens, perguntando-lhes se elas misturar-se-ão com suas lágrimas. Os olhos são os maiores tagarelas taciturnos.

Os olhos de Cristina eram verde-amarelados, tais como frutas amadurecendo. Mas ela não ligava para as cores. Ela gostava da umidade.

Dizia por aí que um olho mal umedecido era como um corpo sem sangue. Atrevia-se a dizer que o número de lágrimas liberadas era o que classificava os olhos.

Conversava com o olho: “Se você, olho, não chorou sequer uma vez, seja de tristeza ou por qualquer outro motivo, você não cumpre seu papel”.

Então o olho, estalado, perguntava a ela qual era seu papel. E ela respondia, prontamente: “Oras, seu papel é mostrar ao mundo através de sua umidade, mesmo nesse tempo de cegueira, o que seu corpo sente”. E continuou seu caminho enquanto aquele olho pensava.

Cristina, enquanto conversava com quaisquer olhos, deparou-se com dois muito excitados e nervosos, viu maldade neles. Eles eram extremamente secos.

Ela tentou fugir. Mas não conseguia olhar para outra coisa senão para aqueles globos oculares desertos. Petrificada.

Seus olhos tremeram, sentiram dor, sentiram medo e choraram. Não abriram mais.

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ESTAMOS FODIDOS

Os dias passam e esperamos uma boa nova. As festas estão ali na esquina; aquele sentimento de boa vontade, de amor ao próximo toma conta de tudo, mas aqui dentro é tudo diferente.
Vejo que o nosso blog está parado, sem atualizações, sem novidades. Ainda hoje eu falava com a Letícia sobre isso. A empolgação inicial se transformou num marasmo terrível.
 Procurei alguns assuntos para comentar, mas nada me anima nesses dias... E tenho a sensação que todos nós passamos por momentos parecidos. Sempre me deparei com sentimentos iguais, tudo o que encarava de novo na vida era alvo de empolgação inicial e com o passar do tempo esfriava.
Isso ocorre desde os tempos de menino, onde a pelada de fim de semana, o pipa novo, os brinquedos antes queridos e brevemente ficavam esquecidos... Até os recentes dias de adulto, onde relações, novos empregos passam pelo mesmo processo: o cansaço.
Em algum momento da vida eu ouvi que somos descartáveis e tratamos o próximo dessa forma, mas não acreditei de imediato. O tempo que tudo muda; mudou isso.  Mas o tempo também me fez mudar a opinião sobre isso, hoje eu acredito que as pessoas são retornáveis e por vezes ficam lá no canto esperando pra oferecer algo.
Todos nós estamos em momento cruciais da vida: o amor não correspondido, o casamento falido, a dificuldade em se firmar no mercado, o amor à distância, a rejeição ainda recente ou até mesmo uma vida feliz (isso existe!).
Não sei como terminar isso, mas deixo uma idéia inicial.


ESTAMOS FODIDOS!