domingo, 24 de outubro de 2010

As mudanças no (do) rock.




Uma banda nasce na garagem, batalha por alguns anos no underground até assinar contrato com uma gravadora... Essa é toda a verdade?
Uma banda nasce na garagem, batalha por anos e anos no underground com produções independentes até seus membros perceberem que vão morrer de fome... Essa é toda a verdade?
Muita gente orgulha-se de gostar apenas de bandas desconhecidas do grande público, as tais bandas alternativas e de fato existe um romantismo nisso, mas quando algumas dessas bandas alcançam o grande público acontece no mesmo momento “o ganho e perda” de fãs.
Os novos admiradores chegam através das FMs, dos programas de auditório, enquanto que aquele fã do gargarejo underground abandona a banda com a eterna alegação: “se venderam”.
No Brasil eu aponto duas bandas com caminhos diferentes e com problemas parecidos enfrentados; Los Hermanos e Dead Fish.
A primeira abandonou as feiras agropecuárias e programas dominicais para mergulhar num casulo que começou em 2000 e durou até fim dos trabalhos em 2007. Já o Dead Fish abandonou temporariamente o underground e ensaiou alguns flertes com a grande massa, mas voltou logo ao ninho, já com danos irreparáveis na sua imagem e na própria formação do grupo.
Ultimamente perdemos talvez a maior revelação do Rock Brasil nos últimos tempos por causa da negação dos seus integrantes em acessar o mainstream. O Canto Dos Malditos Na Terra do Nunca, banda baiana de primeiro nível, interrompeu os trabalhos por não aceitar mudar a sua sede para o eixo Rio - SP. O mesmo aconteceu anos antes com os bons Sheik Tosado e Rumbora.
Alf, líder do falecido Rumbora já admitiu o erro de não ter difundido o som ao grande público e que isso custou dinheiro e bons recursos técnicos para a gravação do segundo disco da banda. Ninguém pode afirmar que essas bandas ainda estariam na ativa, mas com certeza sua doutrina xiita os levou ao penhasco.
Abaixo eu indico algumas bandas que passaram por mudanças ao longo do tempo, tanto no som quanto na postura underground:
O Metallica em 1981-1991 era a banda de metaleiros cabeludos bêbados from hell. Com o Álbum Preto conseguiram agradar aos headbangers mais conservadores e ao mesmo tempo tocar em FMs do mundo todo apoiada no megahit “The Unforgiven”.  O disco foi tão aclamado que o Metallica passou cinco anos fora dos estúdios.
O Metallica 1997-2010 é uma banda de velhos caquéticos que briga contra a distribuição de músicas na internet; que grava reality shows e álbuns sem vida. As brigas internas que antes davam certa mística ao grupo, hoje são ridículas e encenadas. O mesmo Lars Ulrich que já criticou bandas como Nirvana e Radiohead, hoje se sente orgulhoso ao ver Avril Lavigne fazendo um cover açucarado de “Fuel”.
Pearl Jam em 1992 era o Mother Love Bone com um vocalista rouco e muito mais talentoso que o falecido Andrew Wood. Hard Rock dos anos 70 e alguma dose de pop-rock.
Pearl Jam em 2010 é uma banda de quarentões montada na grana e que não tem mais a mesma disposição de antes.
Supergrass em 1995 era a banda favorita do Reino Unido com o seu brit-pop decente, mas demorou pra assumir isso e perdeu o posto para a banda dos irmãos Gallagher.
Supergrass em 2010 acabou depois de uma série de bons discos, mas com baixa aceitação.
Kings Of Leon em 2003 era uma banda de caipiras competentes e cabeludos. Com um som seco, baixo marcante e vocais peculiares. Uma atitude punk sem que ela fosse jogada ao vento. Até levaram o injusto apelido de “Strokes Caipiras”. O KOL tinha uma identidade própria.
Kings Of Leon em 2010, cabelos cortados, roupas justas e elegantes e um som cheio de teclados, arranjos demorados e um vocal sem sotaque e sem vida. Lotam estádios e festivais.
The Killers em 2004, cópia bem feita do Interpol com roupinhas limpas, sem barbas, sem tatuagens, som clean com algumas guitarradas e os dois pés no pós-punk. Orgulhavam-se da influência de The Smiths, New Order, Joy Division...
The Killers em 2009, já com bigodes, som mais seco e sem tantos arranjos. Hoje a banda já admite a influência de Lou Reed, Bruce Springsteen e coisas do pré-punk.
Todos nós mudamos ou mudaremos ao longo da vida e eu acredito que seja justo no caso do Brasil as bandas ganharem dinheiro com sua arte, afinal muita gente se dedicou a vida toda nisso, abandonando estudos, empregos...
Mas o fanático não aceita isso e jamais aceitará.
Eu sou um deles e você?




P.S. Outras bandas passaram por mudanças parecidas, mas eu decidi falar sobre algo que aconteceu no meu tempo.

2 comentários:

Lennon Elias de Godoy disse...

Sou um dos fanáticos também, comecei a ler o textos e ja pensei em vários exemplos pra deixar nos comentários, mas você citou quase todos, um ótimo post...

LetysKiss disse...

É Rei, foi bem especifico no texto, dando exemplos e tudo. =)
E eu concordo, confesso que eu também que saber que você gosta de uma coisa que nem todo mundo conhece, ou conhecer antes de todos rs é bem mais interessante.